quarta-feira, dezembro 06, 2006

Santa hipocrisia

Faz-me confusão ler as barbaridades que andam a ser vendidas por aí em relação ao aborto. Não consigo entender que conceito de vida têm aqueles que gritam pelos sete cantos do mundo que uma interrupção voluntária da gravidez é equiparável a um homicídio. Até já tenho ouvido alguns radicais, declararem ser moralmente preferível deixar morrer a mãe se o feto poder ser salvo! Deixa-me a pensar quem é que anda realmente sedento de morte... Mas enfim, não vale a pena discutir fundamentalismos, o cerne da questão está na dificuldade que têm os portugueses (católicos, na maioria) de aceitar a necessidade do sacrifício da vida de qualquer coisa que ainda nem está formada, que não tem qualquer tipo de vontade própria, que é cientificamente provado não ser mais sensível à dor do que qualquer insecto (se é que sente!), em prol do bem-estar de um ser humano - seja lá que tipo de bem-estar for.

Custa-me ver meninos queques a recolher assinaturas pelo "não" à despenalização - que raio de autoridade moral é que têm? Aceitaria bastante melhor a mesma opinião de alguém duma classe baixa porque a despenalização do aborto, na prática, acaba por proteger apenas os mais desfavorecidos. Só estes têm o meu respeito quanto à opinião contrária à minha já que é a eles que está a ser vedado o acesso a centros de saúde para o praticar em condições e são eles que enfrentam a necessidade de porem em causa a sua saúde submetendo-se a cirurgias perigosas, feitas por pessoas incompetentes e em locais sinistros. Depois acontecem os desastres - querendo ou não, muitos lá acabam a cumprir o primeiro requisito do aborto consentido previsto no 142º do código penal : Evitar perigo de morte para a mulher grávida - e lá vão elas de ambulância para o Hospital.
Quem tem dinheiro, pode sempre continuar a recorrer a centros especializados, com todas as condições, regalias e garantias de segurança. Só têm a maçada de assinar um atestado de malformação do feto falsa, dada por um médico verdadeiro, consentindo a interrupção da gravidez, e obviamente, têm que pagar qualquer coisa que não seria viável para todos.
Classes desfavorecidas: olha, atirem-se das escadas!


Quem não quer ter um filho não o tem (felizmente na minha opinião) independentemente da lei em vigor. Resta optar entre dar condições de igualdade a todos os cidadãos ou não.

Venham os betinhos beatos bater a mão no peito - não é difícil perceber porquê, afinal, para estes não há-de vir mal ao mundo se vier alguém a despropósito.

E a vida que existe no útero? E as ondas cerebrais que transmitem? Bull shit - também o vosso hamster emite ondas cerebrais e se alguma vez tiverem que optar entre o vosso bem-estar e o dele, tenho a certeza que não pensam duas vezes.

5 comentários:

Anónimo disse...

Sabes que numa operação a um bebé na barriga da sua mãe, enquanto o médico o operava, este lhe agarrou o dedo? Foi uma das "imagens de marca" usadas na irlanda pelos movimentos contra o aborto. Foi a prova fotografada, de que o bebé se calhar até sente mais que imaginamos, o que lhe fazem, contráriamente ao que dizes. Se é bom um pai e uma mãe falarem com os seus bebés enquanto estes estão "lá no quentinho" porque é que não hão de sentir mais que um hamster ou um insecto?
Porque é que fazes disto uma guerra religiosa quando nada disto tem a ver com religião?! Por acaso os católicos são obrigados a fazer o que a igreja lhes diz? Não! A igreja dá linhas, conduz, mas não obriga, logo cada um pode ter a sua razão própria para condenar ou apoiar o aborto.
Ninguém é excumungado por votar sim! Isto não tem que ver com a igreja, mas com humanidade e ideais definidos e pessoais. Tenho ouvido uma enorme quantidade de não católicos amigos a dizerem que são contra o aborto. Ricos e pobres.
Vai lá perguntar aos "pobres" que são contra se estão dispostos a pagar (com dinheiro dos seus impostos) uma lei que aprova abortos em clinicas publicas e em clinicas privadas?! Sim porque quem vai pagar tudo isto somos nós. Se os hospitais publicos tiverem cheios, as grávidas são encaminhadas para privados e é o estado (nós ) quem paga. Eu não quero pagar. E com as listas de espera que temos no nosso país, se decidirem que os abortos só se fazem em Hosp. publicos, corremos o sério risco de ter um BOOM de natalidade. É isso?! É que com listas de espera de 2 anos, o aborto só se realizaria quando a criança tivesse quase um ano...lol.
A mim custa-me mais ver meninos queques a apoiar o não sabes?! Quer dizer que se desresponsabilizam totalmente. Bora lá pinar à vontade que depois fazemos um aborto. É que ao exemplo do resto da Europa, salvo raras excepções, o aborto vai se tornar num método anti-conceptivo.
Melhor, sabes que nos estados unidos (o suposto país da liberdade e o mais desenvolvido do mundo) há estados em que se o bebé nascer com deficiencias e estas não tiverem sido detectadas "pelas máquinas" antes do parto, se podem fazer abortos após o nascimento???
É incrivel, e pode ser que eu esteja errado, que o suposto seja caminharmos para uma sociedade de pura insensibilidade. Bjinhos eu

Capitão Santos disse...

Catch, deixa me felicitar te pelo excelente texto. Concordo e é exactamente como eu penso. Este Tó Gama tem de perceber que se uma africana da cova da moura tiver 7 filhos e nao tiver condições para ter mais (ja os que tem não ha condições), espero que seja ele a ir la falar e explicar porque é que votou não no referendo. A escolha é apenas a liberdade da mulher. Nada mais,nao ponham falsos moralismos na questão nem com exemplos, ja que deste o dos estados unidos, lembra te que a pena de morte é praticada em mais de 40 estados. A igreja dá te sermoes á volta da vida, mas sem antes dares a tua contribuição monetaria. A igreja é uma coisa, a religiao é outra, nunca confundas as coisas. Se és pela vida tens de ser honesto e acredita que muitos dos que vão votar "Nao" um dia ja passaram por isso, e isso é que é mais hipocrita.
A nossa sociedade a partir do dia 12 de Fevereiro tem uma oportunidade de começar a evoluir.
O facto de dizeres "Bora lá pinar à vontade que depois fazemos um aborto" representa bem a mentalidade de um portugues que nao sabe ler nem interpretar a pergunta que vai ser feita no dia 11. Se leres a pergunta bem, com umas aulas de portugues iras entender o que estou a querer dizer.
Aqui somos todos pela vida.
Não és o unico.
Se és pela vida.
E o facto de estares preocupado a seres tu e nos a pagar demonstra um egoismo tremendo por quem nao pode ter um serviço como devia de ser. O aborto, tal como a droga irá sempre existir,mesmo que o resultado seja nao, eles vao continuar a fazer se em espanha. Por isso pensa bem. Pode ser que um dia precises de encontrar para alguem querido uma clinica e depois quero te ver a ser pela vida.
Chega de falsos moralismos e liçoes de religiao e moral.Somos todos pela vida. Dia 11 vota com a tua consciencia que eu voto com a minha.
Cumprimentos

Anónimo disse...

É interessante ver como os defensores da "escolha" apelidam á cabeça de hipócritas aqueles que não ensam como eles! É interessante ver como este senhor, usa o critério da "liberdade de escolha" para decidir quem pode ou quem não pode viver. E que liberdade de escolha tem um bébé de 5, 3 ou 1 ano? E de 6 meses? E que liberdade de escolha tem um escravo? Ou um prisioneiro? Ou um habitante de países como a China, a Coreia do Norte ou tantos outros?
finalmente, tem graça a crítica aos católicos e a presunção de conhecer o sofrimento dos outros. É que eu sou voluntário da Cruz Vermelha e de mais 2 instituições de apoio social e por acaso - com honrosas e pouquíssimas excepções - a maior parte dos outros voluntários são católicos. Porque será? Deve ser da hipocrisia...

Catch disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Catch disse...

Caro anónimo,
Em causa neste assunto estão, obviamente, convicções pessoais - não há certos nem errados. De qualquer maneira não deixo de achar que existe uma grande hipocrisia na defesa do "não-por-questões-de-fé", quando os únicos que se fazem ouvir, são aqueles que, de facto, não beneficiam da protecção que a despenalização faculta porque são pessoas com dinheiro suficiente para que lhes seja, na prática, indiferente se o aborto é ou não penalizado. É de louvar o trabalho humanitário da Igreja, nunca ninguém me ouviu dizer que sou contra a instituição em si, mas isso não justifica as posições que promove, a meu ver, mal, nem que eu não as deva apontar. Ainda bem que ajudam, mas também era bom que nunca dificultassem... Daí a hipocrisía