Santa hipocrisia
Faz-me confusão ler as barbaridades que andam a ser vendidas por aí em relação ao aborto. Não consigo entender que conceito de vida têm aqueles que gritam pelos sete cantos do mundo que uma interrupção voluntária da gravidez é equiparável a um homicídio. Até já tenho ouvido alguns radicais, declararem ser moralmente preferível deixar morrer a mãe se o feto poder ser salvo! Deixa-me a pensar quem é que anda realmente sedento de morte... Mas enfim, não vale a pena discutir fundamentalismos, o cerne da questão está na dificuldade que têm os portugueses (católicos, na maioria) de aceitar a necessidade do sacrifício da vida de qualquer coisa que ainda nem está formada, que não tem qualquer tipo de vontade própria, que é cientificamente provado não ser mais sensível à dor do que qualquer insecto (se é que sente!), em prol do bem-estar de um ser humano - seja lá que tipo de bem-estar for.
Custa-me ver meninos queques a recolher assinaturas pelo "não" à despenalização - que raio de autoridade moral é que têm? Aceitaria bastante melhor a mesma opinião de alguém duma classe baixa porque a despenalização do aborto, na prática, acaba por proteger apenas os mais desfavorecidos. Só estes têm o meu respeito quanto à opinião contrária à minha já que é a eles que está a ser vedado o acesso a centros de saúde para o praticar em condições e são eles que enfrentam a necessidade de porem em causa a sua saúde submetendo-se a cirurgias perigosas, feitas por pessoas incompetentes e em locais sinistros. Depois acontecem os desastres - querendo ou não, muitos lá acabam a cumprir o primeiro requisito do aborto consentido previsto no 142º do código penal : Evitar perigo de morte para a mulher grávida - e lá vão elas de ambulância para o Hospital.
Quem tem dinheiro, pode sempre continuar a recorrer a centros especializados, com todas as condições, regalias e garantias de segurança. Só têm a maçada de assinar um atestado de malformação do feto falsa, dada por um médico verdadeiro, consentindo a interrupção da gravidez, e obviamente, têm que pagar qualquer coisa que não seria viável para todos.
Classes desfavorecidas: olha, atirem-se das escadas!
Quem não quer ter um filho não o tem (felizmente na minha opinião) independentemente da lei em vigor. Resta optar entre dar condições de igualdade a todos os cidadãos ou não.
Venham os betinhos beatos bater a mão no peito - não é difícil perceber porquê, afinal, para estes não há-de vir mal ao mundo se vier alguém a despropósito.
E a vida que existe no útero? E as ondas cerebrais que transmitem? Bull shit - também o vosso hamster emite ondas cerebrais e se alguma vez tiverem que optar entre o vosso bem-estar e o dele, tenho a certeza que não pensam duas vezes.
5 comentários:
Sabes que numa operação a um bebé na barriga da sua mãe, enquanto o médico o operava, este lhe agarrou o dedo? Foi uma das "imagens de marca" usadas na irlanda pelos movimentos contra o aborto. Foi a prova fotografada, de que o bebé se calhar até sente mais que imaginamos, o que lhe fazem, contráriamente ao que dizes. Se é bom um pai e uma mãe falarem com os seus bebés enquanto estes estão "lá no quentinho" porque é que não hão de sentir mais que um hamster ou um insecto?
Porque é que fazes disto uma guerra religiosa quando nada disto tem a ver com religião?! Por acaso os católicos são obrigados a fazer o que a igreja lhes diz? Não! A igreja dá linhas, conduz, mas não obriga, logo cada um pode ter a sua razão própria para condenar ou apoiar o aborto.
Ninguém é excumungado por votar sim! Isto não tem que ver com a igreja, mas com humanidade e ideais definidos e pessoais. Tenho ouvido uma enorme quantidade de não católicos amigos a dizerem que são contra o aborto. Ricos e pobres.
Vai lá perguntar aos "pobres" que são contra se estão dispostos a pagar (com dinheiro dos seus impostos) uma lei que aprova abortos em clinicas publicas e em clinicas privadas?! Sim porque quem vai pagar tudo isto somos nós. Se os hospitais publicos tiverem cheios, as grávidas são encaminhadas para privados e é o estado (nós ) quem paga. Eu não quero pagar. E com as listas de espera que temos no nosso país, se decidirem que os abortos só se fazem em Hosp. publicos, corremos o sério risco de ter um BOOM de natalidade. É isso?! É que com listas de espera de 2 anos, o aborto só se realizaria quando a criança tivesse quase um ano...lol.
A mim custa-me mais ver meninos queques a apoiar o não sabes?! Quer dizer que se desresponsabilizam totalmente. Bora lá pinar à vontade que depois fazemos um aborto. É que ao exemplo do resto da Europa, salvo raras excepções, o aborto vai se tornar num método anti-conceptivo.
Melhor, sabes que nos estados unidos (o suposto país da liberdade e o mais desenvolvido do mundo) há estados em que se o bebé nascer com deficiencias e estas não tiverem sido detectadas "pelas máquinas" antes do parto, se podem fazer abortos após o nascimento???
É incrivel, e pode ser que eu esteja errado, que o suposto seja caminharmos para uma sociedade de pura insensibilidade. Bjinhos eu
Catch, deixa me felicitar te pelo excelente texto. Concordo e é exactamente como eu penso. Este Tó Gama tem de perceber que se uma africana da cova da moura tiver 7 filhos e nao tiver condições para ter mais (ja os que tem não ha condições), espero que seja ele a ir la falar e explicar porque é que votou não no referendo. A escolha é apenas a liberdade da mulher. Nada mais,nao ponham falsos moralismos na questão nem com exemplos, ja que deste o dos estados unidos, lembra te que a pena de morte é praticada em mais de 40 estados. A igreja dá te sermoes á volta da vida, mas sem antes dares a tua contribuição monetaria. A igreja é uma coisa, a religiao é outra, nunca confundas as coisas. Se és pela vida tens de ser honesto e acredita que muitos dos que vão votar "Nao" um dia ja passaram por isso, e isso é que é mais hipocrita.
A nossa sociedade a partir do dia 12 de Fevereiro tem uma oportunidade de começar a evoluir.
O facto de dizeres "Bora lá pinar à vontade que depois fazemos um aborto" representa bem a mentalidade de um portugues que nao sabe ler nem interpretar a pergunta que vai ser feita no dia 11. Se leres a pergunta bem, com umas aulas de portugues iras entender o que estou a querer dizer.
Aqui somos todos pela vida.
Não és o unico.
Se és pela vida.
E o facto de estares preocupado a seres tu e nos a pagar demonstra um egoismo tremendo por quem nao pode ter um serviço como devia de ser. O aborto, tal como a droga irá sempre existir,mesmo que o resultado seja nao, eles vao continuar a fazer se em espanha. Por isso pensa bem. Pode ser que um dia precises de encontrar para alguem querido uma clinica e depois quero te ver a ser pela vida.
Chega de falsos moralismos e liçoes de religiao e moral.Somos todos pela vida. Dia 11 vota com a tua consciencia que eu voto com a minha.
Cumprimentos
É interessante ver como os defensores da "escolha" apelidam á cabeça de hipócritas aqueles que não ensam como eles! É interessante ver como este senhor, usa o critério da "liberdade de escolha" para decidir quem pode ou quem não pode viver. E que liberdade de escolha tem um bébé de 5, 3 ou 1 ano? E de 6 meses? E que liberdade de escolha tem um escravo? Ou um prisioneiro? Ou um habitante de países como a China, a Coreia do Norte ou tantos outros?
finalmente, tem graça a crítica aos católicos e a presunção de conhecer o sofrimento dos outros. É que eu sou voluntário da Cruz Vermelha e de mais 2 instituições de apoio social e por acaso - com honrosas e pouquíssimas excepções - a maior parte dos outros voluntários são católicos. Porque será? Deve ser da hipocrisia...
Caro anónimo,
Em causa neste assunto estão, obviamente, convicções pessoais - não há certos nem errados. De qualquer maneira não deixo de achar que existe uma grande hipocrisia na defesa do "não-por-questões-de-fé", quando os únicos que se fazem ouvir, são aqueles que, de facto, não beneficiam da protecção que a despenalização faculta porque são pessoas com dinheiro suficiente para que lhes seja, na prática, indiferente se o aborto é ou não penalizado. É de louvar o trabalho humanitário da Igreja, nunca ninguém me ouviu dizer que sou contra a instituição em si, mas isso não justifica as posições que promove, a meu ver, mal, nem que eu não as deva apontar. Ainda bem que ajudam, mas também era bom que nunca dificultassem... Daí a hipocrisía
Enviar um comentário